Para minha mãe e todas as mulheres
Preciso confessar que demorou mais da metade da minha vida até agora para que eu conseguisse olhar para a minha própria mãe com orgulho e admiração.
Acontece que ela era quase o estereótipo perfeito da mulher que priorizava a família, a níveis que às vezes parecia esquecer de si mesma.
Mas o que eu não enxergava, por muito tempo, era que ela havia escolhido ser mãe e dona de casa.
Ela quis desta forma e assim o fez, apesar de todo incentivo e oportunidades que batiam a sua porta para que construísse uma carreira.
Ela sempre trabalhou e teve seu próprio dinheiro, mas nunca quis ser uma mulher de negócios, bem-sucedida, chegar ao topo.
Tudo que sempre quis foi aproveitar o aqui e agora, com as pessoas que importam, viver um dia de cada vez, construir um lar.
Os tempos modernos me ensinaram que uma mulher empoderada é uma grande empresária, independente, autossuficiente, de blazer e batom vermelho.
Minha mãe não era parecida com esta mulher. Então, longe de mim querer parecer com minha mãe. Não é?
Mas a verdade é que eu mesma também nunca fui muito dada a ideia de ser parte do mundo corporativo.
Afinal, com um pai que sempre trabalhou tanto, também conheço bem o outro lado.
Inclusive, eles se separaram aos meus 2 anos justamente porque não aprenderam a conviver com tais diferenças de energia feminina e masculina.
Ela se culpou, eu a culpei.
Cresci em meio a um imenso paradoxo, com medo de ficar sozinha, não ser boa o suficiente para ninguém, acreditando que meu valor seria medido pelo homem que tivesse ao lado, na mesma medida em que temia ser apenas a mulher de alguém.
Na minha visão, tudo que remetia a mulher recatada e do lar era ruim, se eu quisesse ser livre teria que quebrar todos os padrões conservadores impostos. E ainda assim, buscava todo reconhecimento e afeto nos relacionamentos amorosos.
Até que conheci mais de perto o tal do mercado de trabalho, e quase me perdi ali no meio também. Buscando me reafirmar, provar que era merecedora.
No último um mês e meio, precisei sumir um pouco e voltar a mim. Lembrar de quem sou, o que sempre quis de verdade. E me dei conta de que meu sonho de vida, desde lá pelos meus 14 anos, era ter o meu cantinho, a minha pessoa. Cuidar de mim, da minha família.
Eu trabalho sim, o suficiente para viver bem com meu parceiro, mas preciso dizer que não é minha prioridade. E que não quero fazer do meu objetivo em comunicação fechar negócios, mas sim transmitir minha mensagem, me expressar artisticamente.
E não há nada de errado nisto. Assim como não houve nada de errado nas escolhas, desejos de minha mãe.
Pois ser uma mulher inspiradora é ser dona da própria história e vida. Independente de como, onde e porquê.
Escolha, seja e faça por você.