Não foi a viagem perfeita, foi a viagem que a gente precisava

Já faz algum tempo que venho trabalhando minha relação com as redes sociais. Sobre como elas podem impactar a saúde mental de tantos e como podemos usá-las de uma maneira mais consciente. Portanto, seria afetivamente irresponsável de minha parte soltar aqui quase 50 fotos de tanta beleza, natureza, leveza e deixar por isso mesmo.

Permita-me te contar aqueles detalhes que não fomos acostumados a entregar ou receber.

Começando do início. Foram 24h de carro, ônibus, rodoviárias, paradas só para chegar lá. E a carona que iríamos receber do caseiro quando chegássemos não rolou. Dá-lhe 50 reias no táxi para uma corrida de 15 minutos que um 99 cobraria 10. (Ainda não roda motorista por aplicativo em Pirenópolis).

Ao entrar no bangalô, naquele clima de cansaço e dinheiro mal-gasto, vimos que teríamos que gastar ainda mais com um jantar servido pela caseira pelo menos na primeira noite. Iríamos ao mercado na manhã seguinte. Pois bem, fizemos o pedido e estava uma delícia, ainda sobrou para o almoço.

"Maravilha, vai dar tudo certo apesar dos pássaros caminhando no telhado e do cheiro meio estranho no banheiro rs".

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Sengunda-feira. A primeira manhã se inicia, e os pequenos stress do dia anterior ainda se manifestam.

O Alan decide jogar olhando para a tela do celular e mais tarde fazer um pouco de música com latinhas de cerveja, inquieto que é. Eu queria olhar mais nos olhos e escutar apenas o som da natureza, necessitada de paz e tranquilidade que sou.

Enxerguei beleza em sua criatividade artística (geralmente reprimida) se manifestando, apesar da vontade por silêncio. E sorri. Mas ainda não conseguia me sentir completamente ali, presente, conectada.

Esperava que, como num passe de mágica, simplesmente estar num santuário transformasse meu estado de espírito incomodado e confuso das semanas antecedentes. Não foi bem assim...

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Estava frustrada, triste, distante. Consegui explicar o que sentia e ele me acalmou. Me chamou para fazer a trilha completa, depois de apenas termos visitado a cachoeira mais próxima antes de ir ao mercado mais cedo.

E foi tudo o que eu precisava. Cada passo que eu dava. Cada obstáculo ultrapassado. Cada desafio superado.

Todos os momentos em que tive medo de escorregar, tropeçar, cair. Aos poucos substituídos pelo amor, pela apreciação do processo, da caminhada.

Entrei numa das cachoeiras, me limpei do que estava fazendo tão mal a mim. Ele entrou, ainda relutante e desconfortável, por hora nem gostou nem deixou de gostar.

Dali em diante... Em algumas horas jogamos on/off-line. Em outras tomamos sol. Arrumamos a cama todos os dias. Nos alimentamos (o chocotone da tarde era "a hora mais aguardada do dia" rs). Bebemos cerveja e vinho. Lavamos a louça (cada um dia sim/dia não). Tomamos banho (o chuveiro era péssimo, sério... levei choque no primeiro uso). Exploramos mais o sítio. Descansamos na rede. Meditei com o Buda. Assistimos à filmes, séries e ao pôr do sol. Fizemos amor.

Fomos à cachoeira mais próxima mais duas vezes. Em uma eu entrei, na outra ele entrou. E dessa vez, na última manhã, aproveitou mais. Sentiu a água gelada escorrer, se jogou.

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Fiquei doente de quinta pré-jantar para sexta. Começou com uma dor de barriga.

Se agravou para desinteira, ânsia de vômito, febre, dor de cabeça. Fomos à noite para o hospital, três remédios e um litro de soro na veia. Com meu jeito de dar significado a tudo que possível for, prefiro acreditar que a estadia nesse lugar tão lindo, revigorante e energizado mexeu mesmo com tudo e eu tive que me limpar de algumas coisas de dentro para fora também.

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Na volta, descobrimos uma aranha, do tamanho de um sabonete, no banheiro. No dia seguinte, hora de ir embora, ele jurou que não entraria mais lá e que todas as coisas ali presentes estariam perdidas depois que soltou a escova de cabelo na pia e ela saiu da mesma andando sobre tudo hahahaha. (Sim, eu que tive que resgatar nossos pertences, mas juro que barata é ele que mata aqui em casa rs).

Mais 24h de viagem para voltar... Chegamos hoje por volta das 14h em casa.

E há cerca de 2h estávamos conversando sobre algumas coisas em nosso casamento que necessitamos melhorar. Problemas que agora, muito mais próximos e conectados, encontramos soluções para aplicar ao invés de dedos a apontar.

Pois bem, repito e volto a esclarecer: não foi a viagem perfeita, foi a viagem que a gente precisava. Assim como não é a vida perfeita, é a vida que a gente precisa.

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*Texto originalmente escrito e publicado ontem (29) às 19h25 no Facebook.