Eu não quero o fim da quarentena. Eu quero a cura de todo o planeta.

Era sexta-feira, 13 de março de 2020, meu aniversário de 20 anos. Meu pai veio conhecer meu apartamento e almoçar comigo. Também fui ao shopping jogar boliche com meu parceiro, minha mãe e meu irmão no mesmo final de semana. Nenhum de nós imaginava que seriam os últimos dias normais em nossas vidas, até o momento em que escrevo este texto.

Desde então, apesar de não poder sair de casa, já passei por vários lugares; de alegria, de tristeza, de medo, de raiva. Por agora, estou apenas buscando manter a sanidade mental que me resta...

E para isso, até me afastei das notícias, desinformações, dos grupos que só falavam disso, da faculdade que cada hora dava uma data de retorno presencial nova, do mundo que está tão doente e sofrido. Eu escolhi e preferi me alienar, esquecer, fugir. Pois encarar, lidar com a realidade como está me dói demais.

Não é de hoje que sinto tudo e todas as coisas com a intensidade e a sensibilidade de uma artista. E eu sei que não é de hoje também que há um caos eminente que acontece diariamente no universo interno de cada um. Mas esta pandemia veio para escancarar tudo isso bem diante de nossos olhos, tornar visível e palpável tudo aquilo que eu já via, mas bem que não queria.

As máscaras, o distanciamento, a doença, a morte, os desafios, as dores, o mundo cada vez mais digital... Tudo isso já estava aí no subjetivo. Pessoas se escondendo, se afastando, adoecendo e morrendo por dentro, se inferiorizando, incapacitando, presas no superficial, no raso, no vazio.

Segunda-feira iríamos ao mercado, eu tive crise de ansiedade só de pensar em ver a situação lá fora. Sabe o que eu sinto toda vez que lembro daquele funcionário parado na porta, limitando o número de pessoas lá dentro, passando álcool gel em suas mãos e nos carrinhos, todos de máscara, separados por linhas demarcadas no chão? Desesperança.

Me corrói não ter a mínima ideia de quando chegará o tal do novo normal que todos estão falando, que a gente saia dessa anormalidade. E mais, que a gente saia bem melhor do que entramos, pois como já afirmei não é de hoje que estamos doentes.

E me dá uma sede insaciável de entregar o melhor que eu puder ao mundo, todos os dias, para que de alguma forma alguém seja tocado, impulsionado a olhar para si mesmo como eu fui e encontre a própria felicidade logo ali, e que também não caiba em si e espalhe essa mesma magia. Assim, de um em um todos poderemos nos respeitar, admirar, amar, acreditar em si. Sim, o mundo está um caos, mas eu sei que estarei sã enquanto estiver em paz comigo mesma.

Fiquei sabendo que alguns lugares já estão voltando às atividades seguindo as recomendações, mas sinto em dizer que não sinto o mínimo de conforto por conta disso. Muitos clamam pelo fim da quarentena, precisam trabalhar presencialmente, querem sair de casa, sentem saudades das pessoas e lugares. E é claro que eu também me encaixo por aí. Mas só ter a liberdade de ir e vir por si só não me basta. É preciso muito mais; segurança, leveza, esperança, paz.

De nada me adianta ver meu pai, minha mãe, meu irmão, minha terapeuta se não posso abraçá-los. Não me sentirei verdadeiramente livre enquanto não puder caminhar totalmente despreocupada pelo calçadão do lago.

E não me sentirei verdadeiramente esperançosa enquanto não viver diariamente o meu propósito de ajudar o próximo a estar bem consigo mesmo em toda sua complexidade do ser e de ser humano.

Estou cansada de ver pessoas se maltratando, se diminuindo, se moldando para se encaixar. Eu quero que todos possam ser por inteiro exatamente quem vieram para ser e conquistem o mundo por conta disso também. Que todos possam escrever e contar a própria história, ser protagonistas da própria vida. E que nunca mais se sintam inferiores ou deslocados.

E é claro que não é nada fácil se permitir tudo isso, é bem difícil para falar a verdade. Mas muito mais doloroso é continuar se sentindo menor do que se é, solitário e sem sentido. Eu sei que é, porque eu já passei por isso. E é justamente por isso que trago comigo um incômodo, um desconforto enorme quando vejo outros passando pelo mesmo. Carregando um fardo tão grande de não ser quem se é. Nós somos todos gigantes, só não nos reconhecemos como tal ainda.

Só que está mais do que na hora de começar a fazê-lo, porque o mundo não ganha nada e a gente também não ganha nada em se apequenar e fantasiar. E eu sei que de alguma forma ou de outra estes últimos tempos têm te convidado a olhar para isso. Pode ir parando de se negar o maior crescimento, evolução da sua vida.

Estou aqui numa sexta-feira à noite me dedicando a te falar tudo isso porque necessito fazer alguma coisa. E independente do meu ego estar me dizendo que o texto está uma bagunça vou publicar porque algo precisa ser feito.

Nós podemos e devemos ouvir nosso chamado e calar a boca da insegurança, do medo de falhar. O erro é inevitável no que quer que a gente faça. Que a gente erre naquilo que queremos mesmo fazer então. Pois só assim o sucesso e acerto será ao menos possível. Apenas façam algo por si mesmos e pelo mundo, pelo amor de qualquer-coisa-em-que-você-acredite.

Sabe esta vozinha interior te dizendo que tem algo de errado? Escute-a! Vai se conhecer. Vai se estudar. Vai se questionar. Vai se transformar. Só vai, caramba! Aproveite para começar hoje a se observar, se entender, se mudar. O isolamento está mesmo bem propício para isso. É você com você e talvez algumas poucas pessoas.

Antes de pensar em como o mundo vai ser depois de tudo isso, se pergunte: quem eu quero ser agora para sair melhor do que quando entrei em tudo isso e, assim, poder ser parte da cura e não do vírus, no sentido literal e figurado, que adoece e mata a humanidade?