Como você pode se tornar um “idiota útil” – à sociedade e não ao governo – a partir da Educação?
"Só tem uma utilidade o pobre no nosso país: votar. Título de eleitor na mão e diploma de burro no bolso, para votar no governo que está aí", já afirmava Jair Messias Bolsonaro em novembro de 2013 no plenário da Câmara.
Hoje (17), em maio de 2019 – cinco anos e meio depois –, uma postagem de um “ex-pobre” viralizou. Em exatas 24h, a "Mensagem de um idiota útil em agradecimento ao Senhor Presidente" atingiu quase 18 mil reações, 7,5 mil comentários e 15,5 mil compartilhamentos.
“De onde eu vim, havia milhares de jovens com o mesmo potencial ou talento muito maior do que o meu, mas infelizmente eles não tiveram as mesmas oportunidades e acessos que eu tive. Talvez porque desde sempre não pertençamos à família tradicional. [...] Esse tipo de gente só serve mesmo, quando muito, para votar, e olhe lá”, escreveu o Engenheiro Mecânico.
Discutir a Educação no Brasil nunca esteve tão em alta – principalmente no que se diz respeito a cobrar tanto do Governo – e foi aí que Edmar Scarabello remou contra a maré e fez diferente.
Nascido no interior de São Paulo, o homem de 42 anos não apenas exigiu que refletissem sobre o valor da Educação, como se colocou a exemplo de alguém que foi salvo pela mesma. Afinal, com tantas histórias de falta de acolhimento e desmotivação que vemos por aí, ele teve a “sorte” de uma professora que enxergou seu potencial e lhe deu oportunidades.
“Numa coisa o Senhor Presidente tem razão. Não pode ser qualquer idiota. Tem que ser um idiota útil. Útil para a sociedade. Útil para a Vida. Útil para os seres humanos e para a natureza. A Luíza, minha professora, também tinha razão: a Educação poderia transformar minha vida como, de fato, transformou”.
Imagine se mais pessoas, como ele, pudessem ter tão boas oportunidades quanto? Mas, além disso, que soubessem de fato aproveitá-las e construir a própria história? Consequentemente, uma nova História para o Brasil e o Mundo... Todavia, acredito que há uma escassez de inteligência emocional, portanto, não basta a vara de pesca se não temos a isca.
(Artigo Publicado na Folha de S. Paulo, em 17 de abril de 2019, há um mês: Governo quer aulas de inteligência emocional em universidades privadas)
Ninguém chega a lugar nenhum sozinho, somos eternos aprendizes e mestres da vida. Então, antes mesmo de lutarmos por nossos direitos, que tal darmo-nos o dever de começarmos por nós mesmos?
Falo isso com a experiência de quem teve o privilégio de estudar numa escolar particular de elite na capital paulista, porém, não foi empoderada o suficiente para tirar o melhor proveito de tudo que aquele sistema de ensino tinha a me oferecer. Entrei em 2011, e durei apenas pouco mais de três anos, sendo REPROVADA em 2013, no 8º ano. Final de março de 2014, eu fui “convidada a me retirar”. Minha autoestima intelectual foi destruída. A teoria era encantadora, já a prática: nem tanto.
Na semana passada, enquanto procurava por um envelope qualquer, encontrei – guardado numa das gavetas do meu quarto – meu Boletim:
Pelos quatro anos seguintes, até chegar ao Terceirão, estive matriculada em uma das unidades do Objetivo. Dei-me extremamente bem quanto a tirar boas notas, o que não significa que dei o meu máximo. Faltava a muitas aulas e raramente entregava tarefas de casa. Tudo isso, porque minha saúde mental estava cada vez pior, me sentia julgada o tempo todo e até perseguida. E nada disso era novidade, como já constava em minhas autoavaliações de 2013:
“senti que seria um ano sem perseguição, xingamentos etc” (22/04/2013)
“não faço lição de casa por pura preguiça, até cabulei aulas de Inglês” (04/11/2013)
(Doce Isa da minha adolescência: não era preguiça. Sinto muito por ter pensado assim por tantos anos...)
Em 2018, ao completar a maioridade, escolhi finalizar o Ensino Médio pela rede pública. E mesmo faltando a mais de 50% das aulas, sem fazer um trabalho direito... Eu me formei pela EE Ministro Alcindo Bueno de Assis:
De um lado, o completo descaso com a minha inteligência emocional. De outro, o completo descaso com a minha educação também. Não há saída dentro da escola brasileira do século XXI. Logo, a mudança deve surgir de fora.
2019 eu comecei diferente, estava decidida a ser escritora, e encontrei em pessoas ao meu redor toda a inspiração e resiliência que vem me guiando até aqui. É um trabalho que vem acontecendo desde 2016, com programas de autoconhecimento e liderança de minha própria vida, que eu nada seria sem toda essa onda de amor. Mar calmo pode até não fazer bom marinheiro, mas um marinheiro sozinho tende a se atrair por sereias.
Por isso: falem sobre, sejam ombros-amigos, incentivem pessoas, abram espaços... Assim como o Edmar: tornem-se e façam de si, exemplos vivos! {♡}