ATENÇÃO: o corpo fala, escute-o!

Hoje, eu acordei antes do despertador.

Poderia ser um bom sinal. Um dia que começou naturalmente. O meu corpo querendo se levantar sozinho. Por pura boa vontade. Não obrigação. Mas se um segundo pode mudar tudo. Imagina o que alguns minutos são capazes de fazer...

Levantei, fui ao banheiro, lavei a louça do dia anterior. E meu corpo deu outro sinal. Uma dor de barriga. Algo não estava bem. Voltei para a cama. Chamei meu marido para preparar o café da manhã. Peguei o celular e respondi uma mensagem. Uma dor de cabeça e nas costas, nariz fungando e garganta coçando.

Assim, fui identificando um incômodo atrás do outro. Meu marido ainda não havia se levantado nesse meio tempo, veio me abraçar, pedir uma atenção. Não correspondi tão de imediato, estava ocupada com o celular. Rapidamente ele desistiu, fechou a cara, se emburrou. Larguei o celular.

Comentei que estava me sentindo mal.

Sem resposta. Percebi seu mau-humor. Ele reclamou do meu comportamento. Eu disse literalmente para ele parar de ser chato, tinha sido apenas 1 minuto. Foi ao banheiro, então à cozinha e voltou trazendo o café com leite e o pão de forma com goiabada cremosa e requeijão.

Eu havia pegado o celular novamente, dessa vez para conversar com um cliente. Quando o vi, procurei finalizar a digitação e bloquear sem demora. Nada dele esboçar outro tipo de reação. Comecei a tentar me explicar, justificar. “Poxa, era só uma mensagem. Já ia te dar atenção. Mas por causa de 1 minuto [...]”.

“Vou ter que sair daqui 10 minutos e você já acorda nesse celular”, ele replicou. Logo fiquei chateada, com aquela sensação de que estou sempre fazendo algo errado. “Foi só 1 minuto”, eu repetia. Ele mudou o rumo, falou que não queria me deixar assim. A coisa foi rolando desse jeito, virando uma bola de neve.

Na real, cada um estava tentando se desculpar da sua maneira.

Não queríamos nos machucar, entristecer. Uma pena que o piloto automático nunca pede licença. Fomos agindo e reagindo sem conseguir parar, respirar fundo e voltar ao eixo. Mesmo depois de ele sair com tudo teoricamente bem ainda chorei mais um pouco.

Sem entender porque estava me sentindo tão mal com algo que já estava resolvido, me olhei no espelho e perguntei “Por que tudo isso? Tá tudo bem. Ontem foi um dia tão bom. Não foi? Hoje pode ser também”. E uma vontade súbita de escrever me consumia cada vez mais à medida que a tristeza também vinha.

Palavras faltavam. Abria o Word e nada. Pensava em dizer algo a ele pelo Skype e nada. Já havíamos nos desculpado novamente, dito que estava tudo bem pelo WhatsApp. Por que parecia que ainda faltava algo? Faltava eu me acolher também, fazer algo por mim também.

Acordei fazendo pelos outros...

Respondendo uma garota que venho tentando ajudar com questões pessoais. Procurando feedback do cliente para continuar o trabalho. Visualizando o engajamento do artigo de outra. Por que queria tanto escrever? Porque precisava organizar meus pensamentos, aquietar meu coração, entender a mim mesma.

A escrita é hoje mais do que meu talento e paixão, é também meu maior artifício de carreira. Vale o cuidado para não esquecer sua essência: liberdade. Ao me expressar, sou livre. Livre de mim mesma. De minhas próprias paranoias, ansiedades, falsas necessidades, medos, crenças e vazios.

Escrever é minha forma de silenciar a mentira e gritar a verdade. Qual é a sua? O que seu coração pede e pulsa? Como sua mente vem dominando seu corpo e alma? Lembre-se: o corpo fala tudo àquilo de que a alma está cheia, às vezes farta. Os primeiros sinais, sempre ele que dará. Atenção, escute com o coração.

Minha manhã teria sido muito diferente...

Se eu apenas tivesse me deitado novamente, abraçado meu marido e ficado quietinha. Mesmo a louça que lavei era parte dele. Meu corpo já sentiu ali que se continuasse fazendo pelos outros logo cedo algo daria muito errado. E deu, uma coisa foi levando à outra.

Porém, se ao menos tivesse me permitido receber o carinho, o café na cama... Se ele tivesse prestado atenção quando eu disse que estava me sentindo mal também... Enfim, não querendo entrar a fundo em culpabilidades nem “se...” demais.

A lição que fica é apenas para que das próximas vezes todos nós prestemos atenção aos detalhes. E que seja com calma, cautela, carinho e cuidado. Nós temos o direito de parar tudo de vez em quando, como se o tempo congelasse e voltar mais conscientes.

Afinal, o corpo fala, escute-o.