O que um objeto afetuoso e a história por trás dele pode dizer sobre você?

Bem-vindo, bem-vinda! Os textos que você lerá abaixo são resultado de dois exercícios da Oficina de Escrita Criativa Online, ministrada pelo professor e escritor Anderson Novello, que participei nesta semana.

No 1º, deveríamos contar a história de um objeto afetuoso pelo ponto de vista dele. No 2º, deveríamos escrever uma crônica acerca da história pelo nosso ponto de vista mesmo. Confesso que no fim os POV ficaram bastantes parecidos. Mas por mais que não tenha conseguido inventar uma personalidade completamente nova para o objeto, estou publicando ambos aqui como:

  1. Um incentivo a você para que faça as mesmas atividades, pois ao menos para mim foi uma excelente ferramenta de autoconhecimento;
  2. Uma forma de você me conhecer um pouco melhor por um viés mais literário, imaginário.

Vamos lá?

A História dele:

Olá, eu sou o Magic, um unicórnio de pelúcia de pelagem branca, crista tricolor (azul, amarelo e rosa), chifre cheio de brilho e coração gigante que guarda um segredo. Shhhh 🤫

Nasci numa fábrica lá na China, como muitos iguais a mim e quando cheguei na Imaginarium, logo fui colocado na vitrine e todos os outros guardados no estoque. Imagina só o quanto me senti escolhido e especial! Mal podia esperar para conhecer o meu novo companheiro ou companheira...

Mas os dias foram passando, várias pessoas entrando, muitos me apontavam, pegavam no colo, admiravam e saiam de mãos vazias. Eu notei, porém, que vez ou outra os vendedores entravam no estoque, pegavam um de meus semelhantes, colocavam em sacolas e entregavam para o comprador. O mesmo que havia me segurado e olhado com tanto amor.

Mesmo sabendo que sou apenas um objeto, é claro que passei a me sentir usado. Eu só queria um dono para que pudesse amar e ser amado. Você me entende, não é? Todos precisamos de reconhecimento e carinho, até nós brinquedos, bichos de pelúcia, meros objetos.

Até que um belo dia, estava sentado atrás daquele vidro, vendo todos passarem quando uma moça alta, de cabelo roxo e franja, olhos castanhos, óculos, com uma tatuagem colorida de rosas parou a minha frente, deu um sorriso e um rapaz ao seu lado, um pouco mais alto, cabelo cacheado, também de óculos e olhos castanhos a puxou para dentro.

Mais uma vez, me pegaram, abraçaram, levei um tapa na barriguinha que revela o grande segredo: a palavra “BELIEVE” em luzes que alternam de uma cor a outra. E ouvi primeiro o de sempre “que lindo, eu amei” seguido do padrão “É TÃO FOFINHO!” com entonação quase raivosa e que eu nunca entendi muito bem de onde vem...

Depois de tantas vezes da mesma situação, eu já estava acostumado e anestesiado. Já não ouvia mais tanta coisa, apenas alguns burburinhos até o raro “nós vamos levar”, vindo do moço. “Não a mim exatamente, não é?”, eu pensei. E percebi que nesse momento, algo naquela menina-mulher mudou, parecia não acreditar, o olhar, o sorriso, o rosto todo brilhava.

Apaixonei-me por ela na mesma hora, e um fio de esperança foi trazendo minha atenção de volta para a realidade. Ouço com clareza a vendedora dizer: “parabéns, ele é o último!”. E agora, quem mal podia acreditar no que estava acontecendo era eu! Iria mesmo embora dali com ela? Sério?! Fui abraçado com ainda mais força, e segundos depois retirado daquele lugar.

Passeamos por horas pelo shopping, paramos algumas vezes quando alguém a perguntava de onde eu vinha e ela dizia orgulhosa que eu era o último. E já não me importava mais a Imaginarium e todas aquelas noites solitárias, agora eu era dela e ela me acolhia como eu sempre sonhei, desde o dia em que lá cheguei.

Logo que chegamos em casa, conheci a “irresistível vaidade”, uma intergalática linda, e descobri que ela também veio da mesma loja. Hoje, ficamos sempre juntos e cuidamos do Little Teddy, um micro-urso. Com exceção de quando preciso viajar com a Lana para que ela também nunca mais precise dormir sozinha, aí o Alan fica e cuida deles para mim.

Uma vez, Lana e Alan viajaram juntos e ficamos só nós três. Garanto que nos divertimos muito também, tanto quanto eles. Afinal, nossa família é mesmo assim, cuidamos uns dos outros, nunca nos deixamos totalmente sós e nos amamos muito. Sou muito feliz e grato por tê-los e sei que eles também o são por terem a mim.

Eu sonhava em ter um companheiro ou companheira e logo ganhei dois de cada. Portanto, você também... Sim, você aí do outro lado da tela: nunca desista! BELIEVE in your dreams, because A Dream Is a Wish Your Heart Makes 💖🦄🌈😁✨

A História dela:

Era um belo dia de passeio em família no shopping. Estava eu, meu parceiro, minha mãe e meu irmão. Caminhávamos pelos corredores até que o vi parado ali. Tão lindo, tão fofinho! Um unicórnio de pelúcia, de pelagem branca, crista tricolor (azul, amarelo, rosa), chifre cheio de brilho e um coração enorme estampado na barriga.

Meu amor logo me puxou para dentro da loja, uma das muitas unidades da Imaginarium. (Aquelas que a gente sempre entra, apaixona-se por tudo e não leva nada. Deveriam começar a cobrar ingresso, é isso que eu acho. Mais em conta do que os produtos, é claro). Ele logo pediu para uma das vendedoras que veio nos atender: “Queremos ver o unicórnio”.

Quando o peguei no colo, ela me mostrou que ao dar um tapinha na barriga, luzes acendiam e alteravam de uma cor a outra formando a palavra “BELIEVE”. Apaixonei-me. Quando ouvi “nós vamos levar”, e a carteira do bolso ele começou a tirar. “SÉRIO?!”, perguntei. Afinal, eu não podia mesmo acreditar. Meus olhos brilhavam, meu sorriso engrandecia e o abraço ficava ainda mais apertado.

Ali, com a felicidade e a simplicidade de encontrar o seu brinquedo favorito, eu senti a minha criança renascer. Aposto que você já viu muitas meninas carregando suas bonecas por aí, mas uma mulher carregando um unicórnio seria, sem dúvida, algo inusitado para você.

Pois bem, saí de lá extasiada, saltitante com meu novo companheiro nos braços. Uma menina-mulher de mais de 1,7m que havia se curado. Se curado de toda rejeição, de toda solidão, de toda angústia, de toda mágoa de sua infância. Eu era uma garota de pais separados, de poucos amigos, de paixão não correspondida.

Mas ali eu tinha a minha família comigo, o meu novo amigo e o meu futuro marido. Eu não precisava de mais nada, nada me faltava e eu vivia aquele momento com a presença integra de uma criança com meu presente pra lá e pra cá. Eu transbordava, era autêntica, grata, sortuda e abençoada.

Não me importava com o que pensariam ou deixariam de pensar. Não escondia a alegria exposta em todo meu corpo, mente e ser espiritual. Pela primeira vez e para todo o sempre, eu era apenas eu. Pela certeza de que havia encontrado não apenas um objeto afetuoso, mas o amor próprio por estar com alguém que me tratava com tanto carinho e atenção.

Até minha mãe o agradeceu e disse “ela nunca teve alguém que a cuidasse como merece”. E depois de tantos relacionamentos falidos, eu tinha. E ainda tenho. A ele, a mim mesma e ao Magic. Que até hoje, quando preciso viajar “sozinha” o levo comigo, durmo abraçada e percebo que nunca mais estive só desde aquele dia. Aquele belo dia, de passeio em família, no shopping, em que tudo mudou.

*E você? Qual objeto afetuoso escolheria? Conta a história dele para mim nos comentários? Espero que tenha gostado, um grande abraço e volte sempre {♡}